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sábado, 3 de janeiro de 2015

À galope


Um garoto no limite da adolescência, no auge dos seus ímpetos, vê sua imagem refletida no fundo de um precipício. Lança-se sem receio num mergulho tentando apaziguar a rebeldia. Seus ossos em distensão junto das emoções em desalinho. Sentado sobre os calcanhares, acompanha o vento que empurra grotescamente as cortinas da normalidade. Por um fio de abertura, enxerga a verdade tomar forma.

Vê o mundo passeando por longas e previsíveis estradas. Sente um forte cheiro de náuseas. A vertigem transita na sua transformação. Assedia seus esconderijos que guardam seus álibis e que queimam ao sol. Em duelo ininterrupto com o sono, recusa-se à submissão do absoluto.

Era a própria figura do jovem embrulhado no papel tênue da aventura. Esquecido entre outros gemidos, contas a pagar, soluços e defeitos, esforços e loucuras, do tempo incompreendido de velhas e ultrapassadas memórias, verticalizadas nas melancolias de histórias que nunca foram escritas. Percebe o amor em frangalhos que inutilmente cultuam. Sobram unicamente as marcas que permanecem na pele, simbolizadas em caveiras esculpidas no peito e as cicatrizes de erupções escavadas na face adolescente.

O nariz arrebitado presumido na sua importância de superpoderes. A certeza de uma morte ausente ou distante da sua pressa legítima. Nenhuma barreira conterá a força dos seus dedos num gesto escrachado e obsceno.

Finalmente o homem recém transportado dos hormônios em fúria, bisbilhotando os detalhes da sua biologia.

                                                             

     

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