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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O amor em crise



Desisti de acreditar – ou nunca me fizeram acreditar que o amor valesse a pena. Aprendi que o amor é muito estranho e demanda muitos sacrifícios, muitas renúncias. Prefiro o controle do meu egoísmo. Já acatei a condição de isolamento – não me refiro somente às tristezas. Às vezes também acho graça comigo.

Amar intensamente? Até que ponto devo submeter-me ao que já estava prescrito? A habilidade na manutenção das relações até tenho. A disposição de manter-me íntegro aos apelos do coração é o que me falta. Muitos abominarão o comportamento.Não se pode cobrar fidelidade quando não conseguimos adotá-la (confesso que estou aprendendo a ser exclusivo). Entretanto existe uma ética na minha conduta. Jamais deixarei de ser honesto no que acredito.
 
Recordo-me agora de um caso acorrido há muitos anos atrás, no lugar onde nasci.Uma vizinha bonita, mãe de quatro filhos, comportamento completamente adequado às normas sociais. Surgiram comentários de uma suposta traição no passado que teria resultado no nascimento de um dos seus filhos. Apesar da aparência física desse filho com o suspeito, era prudente não alimentar a chama da desconfiança. Fato é que tempos depois, numa desavença com uma irmã, veio à tona o segredo...

Ela fraquejou (sob circunstâncias que jamais saberemos), cometeu adultério e dessa relação nasceu um filho. 

O marido enfurecido e ferido na sua vaidade de macho, cobrou explicações. Pressionada, desesperada, acuada se enforcou. Deixou apenas um bilhete – que só teve o conteúdo divulgado à polícia.

A irmã delatora do escândalo, tomada de um fumegante peso na consciência, ingeriu uma alta dosagem de remédios e na sua covardia, faleceu. Nem preciso comentar dos falatórios e dos julgamentos hipócritas levantados contra essa mulher, que por um amor insano, arruinou uma família. Ao invés da sentença de todos, me concentrei no equilíbrio dessa senhora para camuflar um amor proibido. O traído reconstruiu um novo casamento e continuou...

O amor me oferece alças para apoio, mas me afasto e o recuso por receio de não saber como dominá-lo.

Ninguém sabe que amor insano foi capaz de levá-la ao extremo do adultério. Óbvio que a fraqueza prevaleceu (até mesmo no enforcamento).

Ainda assim, o que interpretam como covardia, avalio como coragem.


                                                          

Dias de trovão


Estou classificado na categoria de humano – cativo às de resoluções do destino.

Desconheço quem nunca sorveu o amargo de um dia de cão. Oscilamos momentos de euforia e porções de abatimento. Dias escuros, prenúncio de trovoadas, sol esquivo e entocado nas sombras da sua reserva. Decerto e inevitável o céu a seguir, apresentará novo brilho ao opaco e espesso material de bronze.

Acordo em desacordo, irritado, certezas enviesadas, planos estilhaçados, alegrias distantes.

Otimismo ausente e cores pálidas, justamente nesse dia, envolvem o meu contundente enforcamento.

Ressurgem ferimentos ainda abertos – lesões teimosas e reincidentes, tecidos necrosados. Os meus argumentos parecem pisoteados, descorados e cadavéricos... Golpes imaginários são desferidos e atingem partículas do pó em que me materializei. No hiato dessa lacuna em branco residem os sabores do futuro.

Lá fora, nuvens escuras simulam um dilúvio. Muitas obesas, fora do peso, mal humoradas e atrapalhadas – esbarram-se umas contra as outras, irritando a atmosfera e provocando a ira dos raios e trovões. Relâmpagos sibilam e cortam o ar em sinal de irritação.

Deveria ser amparado por Deus, mas falando nisso, onde o encontro?

(...) Isso é matéria para daqui a pouco.