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sábado, 2 de julho de 2011

O som do movimento


Em plateia quase soturna sigo o roteiro de uma bailarina em seus rodopios graciosos, onde mãos delicadas trafegam no ritmo da música que ouço. Numa coreografia secreta, laços e sapatilha entregues à captura dos meus olhos brilhantes e à música imaginária. Seus passos de garça carregam a graça da melodia dos céus. Movimenta-se baixinho na frente do espelho, vestida de vermelho para contestar o rosa. Meias de seda revestem as panturrilhas torneadas e sublimes. Cabelos fixos por uma rede de renda, nas faces covas que dançam junto com seu sorriso de menina. Do corpo de porcelana, como de outros, partem sons que ouvidos sensíveis decifram...

Uma ninfa flutua a pureza dos seus movimentos. Embevecido, me agarro aos acordes da sonata e, em silêncio roubo sem qualquer constrangimento as estrelas do seu palco iluminado.  As parábolas da alma estão todas ali, disfarçadas de virgem. Ao som de um violino envaidecido, faz galhofa da minha fábula.

Em paralelo ao natural, baila de costas. À medida que se afasta, ganha amplitude de espaços e esvoaçam-se os trilhos da lógica. Só não contava com as surpresas situadas ao fundo. Nenhuma precaução, nenhuma cautela com a direção arriscada. Uma única olhadela por cima dos ombros para ganhar noção do terreno evitaria contratempos. Precipícios são possíveis e os tombos prováveis. Todas as bailarinas desistiram ou estão imóveis. Fecharam a caixa de música, apagaram as luzes e adormeceram.

Ainda assim, ouço os ruídos do vento.

                                                            

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