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quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Além do mar...


Esse cheiro incontestável que faz as asas abrirem, infla pulmões, esvoaça os cabelos e assenta o desejo de partir.

Esse breve intervalo entre a serra e a revoada de gaivotas tremulando ao balanço do vento.

Esse insondável mistério das marés incansáveis, investigando as rochas, penetrando as rachaduras das pedras, insinuando-se em ondas sua sensualidade que só é interrompida na areia da praia. Nos avanços e recuos intermitentes impõe suas ingênuas intenções.

Essas nuvens elásticas se moldando a todo instante em leves figuras, brincando saltitantes de esconde-esconde, fundindo-se às outras sem cerimônia. Capuchos soltos no ar, se divertindo na criação de formas indecifráveis.

Esse sorriso narcisista, escondendo sua metade selvagem, sua parte sarcástica. Essa mistura de sal e água de coco que recobre a pele tostada e o transpirar da liberdade.

Essa tela que rasga os padrões de tudo já foi visto antes, que separa o dia da noite com simples pinceladas de perfeição.

Esse sol esbanjado na palma da mão, no topo das idéias, mesclando de cores o oceano entre safiras azuis, amarelos dourados e verdes esmeraldas. Protegido pelas paredes do oceano, só os grãos insolúveis de sal e do tempo que não pode esperar.

Esses coqueiros inclinados sobre as águas que parecem suplicar por matar a sede. O cheiro de maresia, sabores gelados, pombos que vagueiam incansáveis revirando a areia e a curiosidade.

Essa navalha contra o ego, que sem esforço habita o imaginário coletivo de quem espicha os olhos além do horizonte. 

Entre goles, conchas e pranchas me reconheço num caiçara.


                                                       
                                                                 

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