Esse cheiro incontestável que faz as asas abrirem, infla pulmões, esvoaça os cabelos e assenta o desejo de partir.
Esse breve intervalo entre a serra e a revoada de
gaivotas tremulando ao balanço do vento.
Esse insondável mistério das marés incansáveis,
investigando as rochas, penetrando as rachaduras das pedras,
insinuando-se em ondas sua sensualidade que só é interrompida na areia da
praia. Nos avanços e recuos intermitentes impõe suas ingênuas intenções.
Essas nuvens elásticas se moldando a todo
instante em leves figuras, brincando saltitantes de esconde-esconde,
fundindo-se às outras sem cerimônia. Capuchos soltos no ar, se
divertindo na criação de formas indecifráveis.
Esse sorriso narcisista, escondendo sua metade
selvagem, sua parte sarcástica. Essa mistura de sal e água de coco que recobre a pele tostada e o transpirar da liberdade.
Essa tela que rasga os padrões de tudo já foi
visto antes, que separa o dia da noite com simples pinceladas de
perfeição.
Esse sol esbanjado na palma da mão, no topo das idéias,
mesclando de cores o oceano entre safiras azuis, amarelos dourados e
verdes esmeraldas. Protegido pelas paredes do oceano, só os grãos
insolúveis de sal e do tempo que não pode esperar.
Esses coqueiros inclinados sobre as águas que parecem
suplicar por matar a sede. O cheiro de maresia, sabores gelados, pombos que vagueiam incansáveis revirando a areia e a curiosidade.
Essa navalha contra o ego, que sem esforço habita o imaginário coletivo de quem espicha os olhos além do horizonte.
Entre goles, conchas e pranchas me reconheço num caiçara.
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