E então, sobressaltada com os pesadelos que avançara sobre os sentidos, desperta e passa o restante do dia recordando os detalhes.
Lembra vagamente de uma chuva tamborilando contra
o teto, o céu negro em veludo preto e as vidraças rabiscadas em água
ainda moderada. Embalada à vácuo, deitada e afogada numa poça de cabelos, um animal ferido, tentando romper as barreiras intransponíveis das metáforas.
Perdida numa floresta negra, entre árvores densas presencia uma clareira aberta pelo fogo, que a carbonizara num raio indefinido. A nuvem de chumbo da fumaça turvam as circunstâncias. Castiga os pulmões, querendo derretê-los. Em asfixia, se debate em busca de ar.
Perdida numa floresta negra, entre árvores densas presencia uma clareira aberta pelo fogo, que a carbonizara num raio indefinido. A nuvem de chumbo da fumaça turvam as circunstâncias. Castiga os pulmões, querendo derretê-los. Em asfixia, se debate em busca de ar.
Sob os pés, a textura das pegadas de cinzas. Os
troncos fumegantes exalando junto de uma fumaça indiscreta, um
emaranhado na consciência.
Se aproxima um homem de fisionomia esgotada,
sorriso predador, olhos fulminantes e intimidadores. Lábios largos e
incompatíveis às formas da boca. Cabelos confusos, desgrenhados,
assimetricamente distribuídos. Uma cicatriz evidente no braço esquerdo,
resultado de um corte antigo nas suas funções de lavrador. As
linhas delineando e mapeando os traços do seu rosto, estabelecendo
nos sulcos da face e na vulnerabilidade dos seus olhos o desenho da
sua idade.
Recorda dos olhos traçando as paredes, calculando cada imperfeição da pintura, dos reflexos de uma luz que quase morre nos cantos do quarto, dos solavancos da memória que aterrissam nos seus lençóis.
Recorda dos olhos traçando as paredes, calculando cada imperfeição da pintura, dos reflexos de uma luz que quase morre nos cantos do quarto, dos solavancos da memória que aterrissam nos seus lençóis.
Intrigada, é assediada constantemente na sensação
de não ter dormido.
Ao final só os detalhes sobreviverão.
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