Não deveria penetrar num terreno tão perigoso e pessoal quanto a espiritualidade. Impossível dominar a curiosidade que também me consome. Acima de qualquer apreensão está o fascínio que a humanidade preconiza para alcançar o conhecimento presumido acerca de Deus e seus desígnios. Tive como formação uma doutrina católica fundamentada por meus pais, fiéis seguidores de uma imagem distorcida da que construí. Ao invés da figura ariana criada para acompanhar a barbárie de Hitler – tentativa estúpida de selecionar uma raça supostamente superior, a substituo por um descendente africano ou uma doce mulher. Nas minhas perspectivas Deus não possui face. Suas características fogem do portfólio dos feitos, dos padrões hermeticamente manipulados para confundir. Tem o poder de me usar em meu próprio benefício. Ensina-me como praticar o desprendimento dentre tantos apegos inúteis. Contrariando as preces formais, as formulo em diálogo puro e transparente. Creio absurdamente na linguagem coloquial, sem manejos ou manobras. Um dialeto simples, sem palavras, onde o silêncio e os pensamentos traduzam todas as angústias e inquietações. O contato acontece numa força que me circunda e não desgruda de mim. Ganhar dificuldades e obstáculos significam testes de superação. Interpreto essa presença poderosa que se ocupa de mim, em fenômenos ocasionais tão intrigantes quanto misteriosos. Refiro-me a milagres que jamais serão catalogados, os isolei por ainda não compreender os meandros do solo que piso, ou que sobrevoo. Arrisco-me a acrescentar: planando por territórios estrangeiros, escavando domínios guardados por sentinelas protetores em esferas incompreensíveis.
Pesquisas relatam a prática de rituais religiosos entre os nossos primeiros ancestrais. Provavelmente os neandertais nos ensinaram a buscar respostas ao inexplicável. A morte reina absoluta como indício de todas as buscas (em epígrafe: vida após a morte).
Avaliando comportamentos extremos e ortodoxos concluo que além das seitas, fanatismo, sacrifícios do corpo, autoflagelamento, rituais africanos como o vodu, se apresente a incerteza atormentadora suprema que arrastamos: Eternidade. Como alento aos inúmeros questionamentos ergue-se o apocalipse e a culpa como ferramentas de controle. Criamos mecanismos de defesa para a nossa fragilidade. Resumindo, somos idiotas em busca de revelações para provar a nossa inimputabilidade. As punições são nossas. Escolhemos a pena e de que forma as cumpriremos.
Pais católicos embutiram em mim todos os rituais do catolicismo. Primeira comunhão, crisma, e hóstias consagradas. O corpo de cristo resumido em farinha de trigo e água é muito pouco para a dimensão do salvador. Não sou herege ou ateu, apenas acho amadorismo o uso de meras simbologias para exercer a fé. Talvez pela necessidade conclusiva do pragmatismo minha concepção do divino seja egoisticamente cravada no meu umbigo.
Não tenho (mesmo) idéia do que serão feitos meus átomos. Talvez sejam macerados ou convertidos em minúsculas partículas e, uma vez pó, o vento fará o transporte para o encontro com o altíssimo.
E a vida segue... Sigo junto sem dar folga.
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