É sempre incômodo me usar como referência, me expor a ponto de entregar minhas fraquezas e admitir minhas fragilidades (próprias de um aprendiz). Colocar-me como paradigma é mais que ousadia. É permitir refletores sobre mim, ainda que inibam a minha exibição – sempre minimalista.
Anos atrás, tive que acompanhar por quinze dias a internação do meu filho num hospital infantil. Todas as noites burlava a segurança e dormia no local. Embora contra as regras do local que não admitia acompanhantes em horário noturno, rompi as regras e rasguei o estatuto. Por amor (agora sei) queria estar perto.
Numa sexta-feira à noite, trafegando pelo berçário, uma cena me chamou a atenção: uma jovem aparentado uns dezessete anos, embalava um recém-nascido e cantava como só as mães conseguem. Fiquei curioso pela idade de uma menina tão jovem se aventurar na maternidade. Embora aparência de ambos ser discrepante, percebia-se nitidamente uma relação nova.
Sedutor e exímio estudioso do comportamento humano, interpelei discretamente uma enfermeira que abriu o dossiê...
Tratava-se de uma garota de dezoito anos (não dezessete), incorporava à sua formação de psicopedagoga trabalhos voluntários esporádicos e, naquele momento tentava acalmar um bebê órfão, abandonado no lixo, sem nome e ainda com o cordão umbilical.
Fiquei imaginando a medida dos amores ridículos que cultuei e, (mesmo inconsciente, cultivo). Enquanto existem compromissos que selecionamos como inadiáveis, em pleno final de semana, alguém dedica seu tempo a um amor que não conhecia. Esse amor incondicional que tive acesso não possui dimensão, não cobra espaço para se expandir.
Eu que só conhecia o amor egoísta, baseado em satisfações ilusórias, me afastei. Recolhi-me de imediato ao meu exílio egoísta, composto basicamente de apelos passionais. O sentimento calmo, sublime e exato destoava (destoa) do meu histórico.
O amor definitivo definiu-se sob a forma mais simples. Estava próximo e querendo demonstrar seu tamanho indefinido e desacreditado.
Compreendi a sua essência e entendi porque é tão difícil estar disponível para aceitá-lo.
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