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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Teoria em teste


Antes de toda e qualquer projeção de sucesso, cautelosamente cogito o fracasso. Ainda assim, por mais preparado que me imagine, surpresas ainda ameaçam o meu suposto equilíbrio.  Uma coisa posso adiantar com segurança:  Nunca acontecerão com a mesma materialidade e concretude com que foram idealizados. Verdade indiscutível é que especificamente no meu caso tem funcionado. Há ainda o buraco mais fundo do que foi previsto. Não seria exagero considerar que tudo pode piorar. Ou, por ironia, não passar de ameaça. Todas as vezes que subestimei os problemas, por ironia eles ganharam novo tamanho, cresceram e avançaram sobre as minhas ingênuas conjecturas. Quando (mesmo em crucifixo), abstraí-me e esqueci do material com que fui criado, a solução foi imediata. Elucidei a equação, simplesmente dormindo.

Depois de turbulentos fracassos, de projetos falidos, de perdas “irreversíveis” novas medidas foram adotadas. Não ouso recomendá-las, pois não detenho a patente, nem o certificado de qualidade. Apesar da aparente dispersão, sou formado de foco, invoco todos os segundos por metas, por certezas que não posso sancionar. Em duelo feroz, desperto anjos querubins e demônios que outrora foram apostas se Deus. O sagrado convive nos meus parágrafos, vive em trânsito com meus dedos e os flancos dos meus hemisférios. O profano, pretensioso e sedutor passeia sobre as minhas propriedades, penetra aos pinotes com suas invenções e traiçoeiras intenções. Habita sorrateiro na vaidade dos prazeres efêmeros, na nudez perigosa implícita no arsenal de sedução: opulência de carne.

Já não sofro decepções como antes. Vejo-as. Sinto-as... Torno-as familiar ao meu convívio. Antes da colisão já me posicionei de forma a não ser surpreendido (de preferência com os pés fincados ao chão). Já não cobro dos céus o que não consigo explicar. Não vejo Deus como protótipo do homem que gostaria de ser e não sou. Quem sabe me conhecendo melhor, passe a entender das cruzes que carrego, dos espinhos que transporto nos braços, das pedras perdidas no caminho, da minha incompetência em me aproximar da perfeição. A minha contestação não é por rebeldia ou desafio ao que certamente supera o que procuro ser. Busco profundamente atingir a essência contrária ao que me tornei: um solitário rodeado de suficiências relativas.

Eu me basto é pura ilusão.


                                                                 




Um comentário:

  1. Jair,estive por aqui,curti esse texto,abraço!
    Beto Unip-Anchieta

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