De passagem por Curitiba estive num local onde os jovens se reúnem para beber. Pela falta de criatividade inventaram a denominação balada para camuflar a avidez juvenil por farra etílica. A partir dos goles a mais a timidez assume a postura de ousadia, o introvertido transfigura-se em orador, o recatado se exibe impulsionado por energia nova, esquece a insegurança e, turbinado de novo combustível torna-se atraente, viril, conquistador e socialmente visto pela ótica da liderança. Essas nomenclaturas modistas surgem como vírus que se alastram e iludem os possíveis hospedeiros (nós em destaque).
Seguindo a onda, fiz tudo parecido. Era como eu tivesse assumido por um final de semana uma personagem a partir da primeira caneca de chope. Sentado à uma mesa central, tinha um ângulo favorável para uma mania irrecuperável: observação.
À minha frente, destacava-se um casal aparentemente perfeito. Com eles, um par de filhos lindos. Uma família modelo que cabia perfeitamente num porta-retratos em qualquer ambiente. Eis que no decorrer do espetáculo surge um novo protagonista: um garoto ainda com hormônios apavorados, daqueles que qualquer faísca de perigo causa solavancos na adrenalina. O homem estava posicionado entre vários obstáculos que impediam sua visão global, não via o diálogo secreto entre sua mulher e o moleque atrevido. Mãos que se tocaram, bocas que balbuciaram sons incompreensíveis, um bilhete que certamente continha expressões delatoras do intrigante novelo. Absorto, acompanhava o desenrolar da trama (realmente interessante).
O homem, inteiramente concentrado no cuidado das crianças. A mulher, matreiramente se dedicava ao guri. Certamente haviam incongruências só conhecidas pelos envolvidos. Só as aparências não foram capazes de seduzir a minha confiança (Desconfio até de mim).
Pensei sobre a hipotética relação segura do casal. Pressupostamente a ligação estava calcada em bases firmes. Haveriam espaços abertos? (comunicação, insatisfações, lacunas a preencher). Minha resposta faz silêncio.
Fui embora quase congelado (Meu corpo reclama ao ser exposto aos graus negativos), mas com a cabeça fumegando. Nunca consegui lidar com ostentações, fingimento, aparências... Acho jogo sujo e desnecessário. Não quero lançar a semente da discórdia, só quero alertar que a segurança pode se revelar em pura aparência.
Jair!
ResponderExcluirAqui estou para elogiar mais um texto seu...
Parabéns, pois o dom da palavra é para poucos e vc sabe manusea-las muito bem!
Consegui o e-mail direto do RH: selecao@grupofact.com.br
Fique a vontade para mandar o curriculo, ela encaminhará para a vaga de acordo com o perfil. E dps é torcer!
Grande beijo.
Aline Messias