Invisível e impreciso um espectro caminha sobre uma passarela transparente. Nos haustos do seu ímpeto, toma goles sôfregos da nostalgia contígua. Acessa galerias noturnas, repassando a passos irregulares o passado. Cruéis e zombeteiras gracejam as saudades, testemunhas idiotas de uma encosta erma e rudimentar. Além da ponte de madeiras artesanais e degraus imperfeitos, reúnem-se os lastros queimados de uma história inacabada. O homem interrompido pelas saudades vive a crise insensata do blackout silencioso dos andarilhos – em busca dos elos perdidos e da alma que ainda esquecida, vive e voa.
Refugiado nas cavernas da amnésia consentida, observa os ponteiros cronológicos de um relógio enlouquecido, furioso, em pressa desatada. Dispersadas às talhadas, as lâminas do crucifixo golpeiam impiedosas a melancolia. Espessas camadas do gelo recobrem um copo de lembranças trincado e, enquanto isso, fervem em altíssima febre a poesia da liberdade.
Eu, que permaneci estacionado nas vielas do desencontro, ainda busco o diálogo preso nas escrituras rebuscadas do dialeto quase sagrado. Talvez o eufemismo contido na solidão seja legítimo e a premissa dos sonhos sobrevivam numa tenda ainda desconhecida. Existi ou fui apenas passageiro? Um símbolo errante ou mensageiro do futuro? De todo modo, sei que a estrada é longa. E, eu também.
Nenhum comentário:
Postar um comentário