Páginas

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Um bar chamado divã



 


Poderia ter ajoelhado e pedido perdão pelos goles exagerados, pelo gosto pronunciado de cana. Confesso a prática delituosa, quando fui  cúmplice na prova de vinhos, caipirinhas, vodkas, amarulas e cervejas. Não quero fazer apologia às madrugadas em transas enfurecidas, usando o subterfúgio da alteração do álcool, para não lembrar com quem dividi a cama e o vapor das gotas etílicas de suor.
Foi apenas um detalhe, que para mim nunca teve importância.

Na mesa redonda masculina, onde se estabelece a convenção do happy hour, além do futebol e seus desdobramentos as mulheres também participam. Lembro às enciumadas, que os verbos “falar” e “comer” estão associados erroneamente apenas aos comentários maldosos e vulgares do sexo oposto. Somos bobos sim, crianças enfastiadas que se valem dos momentos leves do relaxamento para exorcizar demônios graúdos e monstros inofensivos, quando anestesiados. 

Nos templários de uma esquina qualquer, encontro a cumplicidade incompreensível reservada aos botecos. Não os frequento para embebedar os sentidos e perder a razão. Reservo-me a chacoalhar as idéias, rabiscar guardanapos e compartilhar os segredos inconfessáveis dos boêmios e poetas. Nada de grotesco ou absurdo. Apenas uma maneira até cultural de deixar-me leve, admitir-me de uma austeridade desnecessária. Nas mesas dos bares estendo meu divã companheiro, meu analista mais simples e mais eficiente. O encontro abstêmio do mais puro e generoso desabafo que mantinha bloqueado.

O pescoço chupado e as marcas impressas na pele poderiam ter sido desferidas no vagão do metrô, na Empresa, na rua de baixo...

O bar, foi puro e simplesmente um pretexto.



Nenhum comentário:

Postar um comentário