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quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Sem meias palavras

 

Com o vigor do tempo e suas manobras decisivas aprendi a ser incisivo. Cabisbaixo, tive receio e dúvidas, usei pretextos (que hoje seriam classificados como covardes), escureci meu texto. A sensação de vácuo no vazio das minhas frustrações foi substituída por estímulos, por novas atitudes, por uma escrita mais legível. Quando deixava que as lágrimas mirins afogassem meus caprichos ilusórios, ignorava que a seguir seria observado pelos olhos enxutos da certeza e da maturidade. Foi-se embora a dramaticidade e ficou o equilíbrio. Desanuviaram-se as nuvens contraditórias da contramão. Dissipou-se a fumaça que cobria de cinza o fogo da minha espera (os 18 anos pareciam improváveis).   

Na copa frondosa de mangueiras e goiabeiras catava (ou roubava) frutas frescas. O que tirava no pé, o consumo industrializou. O ultimato radical erradicou drasticamente meus sabores do passado. O silêncio das luzes longínquas e intermitentes adquiriu brilho próprio, atingiu outras dimensões, tornou-se razoavelmente suficiente. 

As tralhas acondicionadas sob tênues condições, romperam extremadas as extremidades da inutilidade. Foram descartadas como cascas de cebola, como caroços de manga. Da impotência algemada e amordaçada foram acionados gatilhos de sobrevivência, mecanismos de defesa.

Das dores abissais (dimensionadas em aumento), busquei os méritos que por tolice não reivindicava. Aquele racker que encontrei na fila do teatro abarrotado me ensinou a brincar de forca enquanto esperava. Sentado no chão descobri o quanto tenho de opostos. Aposto que ganhei em transformar as meias palavras em termos exatos. Desconfiado daquela figura de boné, chinelo e gírias, Submeti-me à face oculta que me escondia. Obrigou-me a sacolejar meus preconceitos. Fez-me esquecer dos julgamentos (há muito não me dava acesso ao riso). 

Tudo faz sentido quando falo pouco e compreendo mais.



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