Velhos de mãos dadas (atadas) se dirigem à praia para se suicidarem. São cercados de anjos manchados de roxo e caracóis desenhados nas harpas. Entre aspas, cólera e farra apertam a areia como se pudessem dominá-la. Sob nuvens delicadas exibem a textura de seda das suas faces coradas. Expõem argumentos coerentes a favor da vida, mas não são capazes de evitar os maremotos que virão. Sem explicação concreta, me vem à mente centenas de casais andando descalços dentro de uma bolha, tentando romper o elástico material plástico. Sufocados, em mutirão tentam mutilar a redoma infindável dos equívocos. Por um fio, em desafio à experiência se entregam aos braços suicidas do cansaço. Desfazem-se os laços da ilusão. Erguem-se as portas secretas das exclamações e das buscas. Fôlegos são requeridos no ar que respira lá fora. Reconheço que não ter percorrido o Caminho de Santiago a cada dia se revela numa grande frustração. Amante de trilhas, tenho absoluta certeza que antes de arrebentar a bolha, vou atravessar a experiência. Posso até adiantar os encontros, as imagens, os crucifixos, os sacrifícios, as mochilas estourando de histórias e aventuras inconcebíveis, as renúncias aos prazeres imediatos, as lagartixas largadas na beira da estrada, misturando o verde da suas costas com o vermelho valente do sol. Vejo bolha nos pés empoeirados da jornada imprevisível e descubro porque a previsibilidade está fora dos meus planos (procuro roteiros inéditos, mapas sem marcas, histórias inteiras - sem cortes nem retoques, histórias originais envolventes que seduzam com bom humor e toques de verdades). Os intrincados fatos que intrigam a mente dos pensadores estão em extinção e, sobre este globo revestido de espessas camadas de repetições, novas petições são impetradas. Àqueles ingredientes clássicos maciçamente explorados em exagero (ciúmes, amores suspensos, paixões irracionais), adiciono truques racionais de convivência: tolero.
Administro minha rebeldia.
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