Olho ao redor e ando em círculos, apalpando os absurdos... Surdamente, de ouvidos se secretos, orelhas em riste, cenho curioso, esmiuçando os degraus dos meus naufrágios. Destruí as velas, apaguei os faróis e do outro lado da margem só um ponto sagrado escrito em vermelho: Descubra a saída. Na mesa, os pães pelando de quente e o leite gritando numa leiteira em fogo fervente. Dou voltas na mesa, ataco uma maçã a mordidas (como se todas as culpas do mundo estivessem na simbologia das suas tentações). As marcas dos dentes cravados revelam a crueldade quase vampiresca da mandíbula mordaz e dos caninos impressos na polpa tenra da minha vingança desnecessária.
A cama aliviada do meu peso ainda queima. Solitária, sobraram os lençóis amarfanhados, banhados pelos vestígios materiais, resquícios de batom e perfume misturados com seda e cigarros. Como protagonistas, dois corpos vencidos pelo tédio inevitável. Só o amor sobrevive sobre a paixão enfurecida que tem validade estabelecida. A exclusividade do pós, escavada a golpes simultâneos só é permitida (objetivamente) no descompromisso, na ausência de apólices. Após o êxtase, a colisão entre duas diferenças metabólicas são inevitáveis (ainda que sob protestos). Enquanto o homem dorme a mulher sonha.
Um sofá no quarto amplo, uma estante com livros esquecidos e um gato ligeiro, de olhar intrigante. Amola suas unhas nas fibras do tecido mostarda e, com um novelo, brinca de pulo mortal, desafia as leis Newtonianas e cria sua própria extensão. Ocupa toda a largura do cômodo. Torna-se dono do espaço conquistado com a garantia dos seus bigodes.
À minha volta, gargalhadas e pouco caso do acaso. A verdade absoluta é manipulada, tripudiada, tratada com rechaço. Enquanto me concentro em detalhes filosóficos a vida segue impassível sua rotina. Nesse labirinto, onde buscamos aceleradamente encontrar saídas, sento à beira do caminho e contemplo as formigas que seguem em fileira a fila incansável das repetidas perguntas.
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