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quinta-feira, 9 de julho de 2009

Por um fio


Atravessando um estágio delicado, onde caminhava a passos cuidadosos na beirada de um precipício, mergulhei sem cuidado na honestidade do autor. Também estive perfilado ao paredão de pacientes terminais retratados por Dráuzio Varella. Como ele, alterei a percepção ao que me rodeia. Todos os meus antigos filtros esgarçaram-se. Olhares que se concentravam em partes, cobravam a visão de um todo. Aquele estereótipo que todos sustentam da auto-suficiência são dispensáveis. Não há espaço para a vaidade  e minúcias narcisistas, quando verdairamente vivemos sob comandos.  De todos os depoimentos colhidos, alguns milagrosamente sobreviveram. Outros, cederam ao iminente desfecho, à derradeira oportunidade de remissão.


Esses dias, do silencio do meu quarto, ouvi um diálogo comovente entre os meus pais no quarto ao lado: Casados há mais de trinta anos, ainda mantêm acesa a chama da cumplicidade e dos fatores que realmente importam. Da cama que abrigou as intensas coreografias dos corpos entrelaçados, restaram os escrúpulos da simplicidade, a troca generosa do amor imortal. Compreendi em sua profundidade o amor que não alcançava – e que talvez seja inacessível às minhas expectativas. Comecei a prestar atenção ao que não queria ver.

Compreendi entre outras coisas, os conflitos instalados nas relações e suas causas: Duas delas são absolutas: Sexo e dinheiro.

Lá fora, o sol espreguiçava-se todas as manhãs, de braços abertos repetia os movimentos paulatinos e rotativos. Dentro de mim, sentia vergonha das minhas pobres prioridades. Enquanto me ocupava de interesses egoístas, alguns sentenciados à morte, revertiam a angústia e o desespero em fé e esperança.

Comumente nossos sentidos de solidariedade e compreensão só são autenticamente identificados quando estamos ameaçados, cerceados, às vésperas do faticídio. Quando Dráuzio observou os detalhes além da medicina, se inseriu na história do outro e, novamente, se tornou brilhante nas suas considerações.

Ao término do livro, sucedeu-me as interrogações:

Por um fio de nylon?
Por um fio de navalha?
Por um fio de algodão?

Um dia saberemos a revelação de tão tênue colocação.

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