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quinta-feira, 16 de julho de 2009

O silêncio


Ouço gritos vindos de muitas direções e sigo calado, experimentando o sabor do vazio.

Inflexões do passado irrompem a dura casca da saudade. Estou sem palavras... Os ecos são vigorosos e cobram retornos.

Pela janela, observo o movimento do vento contra as folhas das árvores numa dança esquisita. O frio congela tudo que se move no exterior da minha pousada. O Silêncio é quebrado pela insistência do ar que transita sem culpa entre os obstáculos naturais.

Declino dois lances de escada e atinjo a rua. O cenário é fantasmagórico. A sombra e as pinceladas de cinza povoam o quadro. Uma atmosfera enevoada, quase triste, habita naquele delírio.

Uma neblina insistente irrita e molha minhas roupas. Ao longe, ouço o toque furtivo de buzinas ensandecidas e o som uníssono da garganta de um galo que ensaia sua ária.

Ao meu lado, soa despudorado um telefone público que ignora as horas avançadas e a inconveniência da proposta.

Avisto naquele espaço ermo, solitário, um vulto errante em desenfreada procura... Descubro tratar-se de um bêbado andarilho a garimpar detritos junto ao meio-fio, buscando bitucas de cigarro. Maldito vício! Maldita vida mendiga! Maldito silêncio.

Após os haustos da minha “loucura”, submeto-me ao concreto do sono reparador.

Ainda assim, o silêncio permanece.

                                                                           
                                  

     

     



     


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