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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Faz de conta


No plenário, o discurso efusivo do convencimento. No alto da plataforma vê-se sapatos espelhados e a sedução em forma de oração. Murmúrios escapam sorrateiros buscando companhia. Falam eloquentes e articulados as gravatas o os ternos bem cortados. Palavras de mercúrio e neon atravessam as paredes transparentes da persuasão. As meias palavras, os meios-termos, os subtextos são manobrados e bordados em outra configuração: Há nesse templo uma mentira de beleza absoluta aos que sempre sonharam um dia serem lindos e perfeitos.

A grande massa embevecida, absorta, mandíbulas contraídas e o desejo frenético de acreditar no que não pode ser. As pessoas se apoiam na covardia do impossível para se manterem prostradas na prerrogativa do impraticável. Afinal, comodismo e resignação ajudam a explicar a paciência. Ignoram o debate negociado das dúvidas para justificar seus pretensos estágios de superioridade.

Um amontoado de opiniões, distribuídas ao longo de incontáveis poltronas vermelhas, fincadas no piso de madeira riscado por tantos sapatos e verdades distintas. Ressoam internamente novos conceitos do amor, boas intenções e ilusões prolongadas nas decepções. Protesto: O amor ilimitado só existe associado a outros interesses. As boas intenções (aquelas puras e espontâneas) são uma farsa; apenas disfarçam um duelo sutil entre a admiração, a conquista e o medo de perder.

Como um explosivo de pavio curto, não dispenso nem desperdiço tempo na espera das ilusões serem detonadas. Esses doces enganos que exímios defensores protegem aos berros, só examinam brechas para serem cometidos de novo.

Sim, faz de conta que eu acredito.

                             

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