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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Imóvel


Envolvido naquele abraço prolongado, onde o calor e o abrigo procuravam encaixe. Estendemos aquele instante como se a apresentação fosse o início da despedida. Olhos fechados, vasos dilatados. Pernas paralisadas, a paixão se exibindo. De fundo, só o barulho das esquinas, o ruído das buzinas e a conspiração dos ecos constrangedores do silêncio. Algo acontecia dentro de nós.

Os longos cabelos encaracolados, os olhos castanhos enigmáticos, o corpo perfeito para a medida dos meus braços. Abraçada a um violão, falou a multidão do amor sufocado, dos furtivos momentos da paixão exagerada. Encantou com seus acordes o entusiasmo dos meus ouvidos.

A cortina de poeira começou a assentar quando surgiu a presença de alguém que já ocupava o espaço que pleiteava. O Amor inesperado revelou-se proibido à medida que outro personagem já encabeçava a função de protagonista. Aquele abraço eternizado no sonho, tornou-se clandestino quando descobri que estava patenteado.

Em carne viva, vi minhas ilusões sangrando sob a visão de um amor impossível. Atravessar e me entranhar num espaço em branco poderia representar apenas um capricho. Seria estupidez fomentar uma disputa baseada apenas nas minhas extravagâncias.

Vagueando em mim, encontrei a propensão de amar o que não tinha, de ambicionar a excelência que não me pertencia. O que me excitava era embaralhar o jogo, me infiltrar como elemento novo, quebrar o tédio que transformaram em bagaço.

Tenho adormecido protegido ao sabor daquele abraço.

                                                   

     


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