Envolvido naquele abraço prolongado, onde o calor
e o abrigo procuravam encaixe. Estendemos aquele instante como se a
apresentação fosse o início da despedida. Olhos fechados, vasos
dilatados. Pernas paralisadas, a paixão se exibindo. De fundo, só o
barulho das esquinas, o ruído das buzinas e a conspiração dos ecos
constrangedores do silêncio. Algo acontecia dentro de nós.
Os longos cabelos encaracolados, os olhos
castanhos enigmáticos, o corpo perfeito para a medida dos meus
braços. Abraçada a um violão, falou a multidão do amor sufocado,
dos furtivos momentos da paixão exagerada. Encantou com seus acordes
o entusiasmo dos meus ouvidos.
A cortina de poeira começou a assentar quando
surgiu a presença de alguém que já ocupava o espaço que
pleiteava. O Amor inesperado revelou-se proibido à medida que outro
personagem já encabeçava a função de protagonista. Aquele abraço
eternizado no sonho, tornou-se clandestino quando descobri que estava
patenteado.
Em carne viva, vi minhas ilusões sangrando sob a
visão de um amor impossível. Atravessar e me entranhar num espaço
em branco poderia representar apenas um capricho. Seria estupidez
fomentar uma disputa baseada apenas nas minhas extravagâncias.
Vagueando em mim, encontrei a propensão de amar o
que não tinha, de ambicionar a excelência que não me pertencia. O
que me excitava era embaralhar o jogo, me infiltrar como elemento
novo, quebrar o tédio que transformaram em bagaço.
Tenho adormecido protegido ao sabor daquele
abraço.
Nenhum comentário:
Postar um comentário