Idas e vindas, encontros e despedidas. O amor que não tive ou provavelmente não enxerguei. Ocupei-me demais na busca da perfeição inalcançável. Esqueci-me que fui feito com a possibilidade dos equívocos, com outras alternativas além do que não conheço em mim. Por um momento fui ludibriado pelo que a curvatura dos teus lábios deixaram escorregar. Um cérebro puro deixou-se manipular contagiando cada minúscula célula só para compreender como o amor se move. Por um fio não fomos tragados pelo passado implacável e quase matamos o presente que se arrasta conosco. Descobri espaços em nós que só o tempo poderá ocupar. Ando ferido demais para apostar em aventuras, cansei de equilibrar meus desejos num pires. Preciso de volume, busco profundidade.
Aqueles beijos roubados desordenadamente
na volúpia felina foram necessários à percepção do quanto estamos condicionados
às reações físicas. Nesse terminal de dados repetidos faltava a comunicação dos abraços. Faltava esticar os braços na direção dos campos floridos como um rio entregando a tocha para a imensidão do oceano, Faltava despirmo-nos de sonhos antigos e adormecer ao som da eternidade dos amantes. Sem perceber, em ti tropeçava. O passado irônico tentou pousar a vergonha do fracasso nos meus ombros. Sonhos maiores bloquearam a inflação. Se o passado apresenta um preço, o futuro garante o recomeço.
A cama antiga e desengonçada no contratempo do prazer cego, que um dia
comportou o imediato dos fluídos naturais, ganhou contornos sensoriais
verificados no toque do hoje. Quero a luz que penetra a fachada das nuvens, a coragem e desembaraço dos lírios que enroscam-se nos troncos. Quero exterminar os insetos exuberantes que sobrevoam meu sono. Quero colocar alma e emoção nesse boneco curvado sobre uma alegria forjada. Quero ocupar espaços, apresentar meu tamanho.
Adormeço com o sono a pedir mais sonhos. Posso até sonhar, desde que outro sonho.