Todos (indiscriminadamente) se protegem em roupas emprestadas ou faces imaginadas perfeitas. Tudo por receio de expor algumas debilidades disfarçáveis e indefensáveis. Deparei-me dias atrás com um jovem olhando atentamente para o chão. Parecia absorto e enfeitiçado com algo aos seus pés. A passos curtos e lentos simplesmente girava. Poderia imaginar um louco em crise. Diferente disso fiquei imaginando o que aquela extravagante coreografia significava. Louco seria eu se deixasse de considerar que atrás daquele aparente disparate haviam milhões de pensamentos furiosos. O que o levaria a andar em círculos como se pudesse alcançar no chão respostas para suas angústias? Que atenuante se encerrava naquele ritual excêntrico? Minha curiosidade estava desgarrada dos julgamentos. O que menos interessava para mim era a estética, como se vestia, seus hábitos diários. Queria sobretudo encontrar na sua "loucura" algum ponto de convergência comigo. Sempre observei no ser humano a nascente criadora de toda a originalidade que me fascina. Obviamente não enxerguei aquele rapaz numa esteira, praticando exercícios para voltar à forma. Nitidamente havia um cara perturbado. No mínimo surpreso por estar fora da zona de conforto. Compreendi metaforicamente que quando perdemos a capa maternal fica difícil administrar nossa fragilidade. Espaços vulneráveis ameaçam profundamente nossa condição de vivos. Fiquei imaginando portas que hesitei atravessar, situações de dor e embaraços que enfraqueceram minha ousadia de ver. Deveríamos olhar ao nosso redor com a intensidade de quem sugere interesse. Muito acima dos nossos interesses pode haver cenários fantásticos que por defesa, ignoramos.
Vejo assim, ou pelo menos procuro.
Vejo assim, ou pelo menos procuro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário