Era o que sorria no vácuo dos meus cálculos mal feitos, na insensatez das minhas atuações de indiferença.
Era o que via nas imagens trêmulas e desfocadas. Acreditava nos demônios vestidos de branco, nos castigos esculturados a partir dos palavrões inocentes proferidos no auge das turbulências imaginárias.
Era quando me imaginava no topo de uma encosta, próximo da linha do horizonte alcançando o céu. De braços erguidos tocaria nos mistérios insondáveis além dos sentidos espalmados ao meu alcance. O meu tamanho reduzido impediu que me misturasse às estrelas, fizesse das minhas costelas constelações. Obstruíram minha vontade de levar comigo uma fatia do sol para evitar o inverno e não me sentir tão só.
Era quando supunha enxergar a perspectiva das cores pelos meus olhos castanhos. Seguindo o meu delírio as cores escuras não existiriam. Exceto a poesia desse estranho processo seletivo onde os tons amargos eram destruídos. Sobrou-me a neutralidade da loucura real. A nitidez dos sonhos é pontiaguda como lanças, fatal como um disparo à queima roupa e tão necessário quanto as minhas utopias.
Foram os sonhos que tive de olhos abertos em vigília cautelosa e, cerrados para fingir que não sentia. Os erros e desperdícios desnecessários. A minha teimosia sempre foi maior que as evidências. Com pompa e circunstância sou o silêncio de todos os gritos, as cicatrizes de todas as colisões.
Eram a sorte idolatrada, acariciada entre os cobertores de ilusões que me aqueciam.
Eram os ímpetos velozes dos espasmos refletidos na ira repentina. A arritmia nunca compreendida da minha insistência.
Eram espelhos que simulavam a imagem sem defeitos, dos cabelos encaracolados em forma de nuvens, da vaidade expressa na minha cara lavada.
Eram as marcas pressupostamente indeléveis deixadas na minha pele com o simples toque dos teus dedos, a maneira com que pronunciava o amor apenas escrevendo.
Não tenho mais dúvidas: Fui enganado e ainda assim não desisti de sonhar.
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