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sábado, 21 de janeiro de 2012

Vazio


Branco, liso, vazio... Deitado com as mãos na nuca e as pernas apoiadas no imenso espaço abstrato construído a partir do vão das minhas criaturas. À minha esquerda, junto de um coração aflito, estampado nas paredes macias, alvas, irritantemente perfeitas que quase me tocam, um papel amassado, torturado pelas mãos psicopatas dos erros e caligrafia analfabeta. Identifico cada senha incrustada na irônica piada de mim mesmo. Às vezes vejo graça nas imperfeições, até nas rasuras de um rascunho atirado ao solo.

Transformo o piso frio num leito em brasa onde cruéis correntes visitam meus pulsos. A boca lacrada balbucia seu nome em vão. Ecos silenciosos são devolvidos a um palmo de mim mesmo. Nesses quatro cantos onde busco medidas, num esforço incomum percebo a minha ausência.  Sozinho sou muitos, sou maior, melhor que nada.

Recebo golpes secos de vento, inalo sopros estranhos que vão direto ao estômago. Esticado no centro de um quarto amplo, falta espaço apenas para os pequenos pecados resultados da contravenção de crescer. A janela esquadrinha o sol em frestas entre meus cabelos ralos e mente curiosa. Sol que ousa despertar minhas pestanas, desliza sorrateiro sobre a silhueta da minha sombra. Transporta-me à infância onde despontam os primeiros indícios de um sonho tolo: Amor eterno.

Plantados num vaso estão todos os galhos secos que pisastes. Encolhidas e esquivas, recolheram-se as promessas que não cumpri. Não saíram do papel. A proposta era interessante: Seríamos imortais nas nossas cascas frágeis e intocáveis, na ousadia de competir... De jamais perder.

Acima de mim pairam os segredos traídos que rasgam o meu peito descoberto. O céu que procuro está encoberto por um teto branco, liso, vazio.

                                                                 


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