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sábado, 28 de julho de 2012

A cruz e a espada


Por um tapete alvo de areia sigo sozinho por opção. Flagrei-me depois de solteiro excessivamente inconstante e introspectivo para ser compreendido com a leveza que acredito e busco. Persigo a passos solitários eternas lembranças de oásis e abismos. O sol que incandesce as nuvens emaranhadas e frias como gravuras de gelo, queima aos poucos minha sombra. Deixo-me dobrar, agacho-me sobre a tela imaginária de areia e rabisco trechos da história que não foi minha, foi nossa. O vento varre calçadas, ilusões, conchas e gaivotas. Lá do alto, sopra os embaraços das ondas, espalha a espuma das bocas famintas (fusão ofegante de sílabas e salivas), dos sonhos escritos em cada grão, de cada palmo do meu vulto silencioso. Assobia nas minhas orelhas o canto suave do silêncio. Em cada promessa um fracasso. Em cada palavra um dicionário a interpretar, um segredo entocado na vastidão dos teus olhos. Nos cabelos esvoaçantes enlaçam-se fios de alegria e alguns laços abstratos de fita azul (como as imagens criadas e imaginadas). Em cada investida uma renúncia. Em cada conquista uma pausa. Estou estático, tentando manter em equilíbrio os pensamentos que rodopiam.

Corro em disparada no solo arenoso como se me evadisse em fuga, como se pudesse ir de encontro a mim. À frente um deserto longínquo de tédio. Bateu-me a preguiça de tentar de novo. O horizonte é possível para todos, mas definitivamente não me atrai essa aposta. Conheço à exaustão as manobras da sedução. Abstraio-me dessas dores masoquistas. Até participei com entusiasmo inicial de jogos que se mostrariam inúteis, insuficientes. Queria apenas descobrir-me simples, tocar o céu com os dedos como se dedilhasse a textura das sensações. Queria a certeza das coisas verdadeiras, a fé do tangível, o  reencontro (pelo menos comigo). Quero por inteiro a cruz que me salva e a espada que preciso.

Tento lembrar da felicidade ausente, nunca sentida, nunca permitida, dos sonhos discutidos na razão inocente, dos sorrisos insossos transplantados dos enganos, dos tratados contraditórios. Convenço-me finalmente da inabilidade para fazer alguém feliz. Sou intenso demais para querer tão pouco. Por algum tempo mantive a possibilidade de desejar companhia, mas passou.  Não estou triste e nem tampouco derrotado. Ao contrário, uma segurança e autossuficiência me sustentam  e me estimulam a acreditar. Estou apenas contrariado por compreender o rompimento necessário do que poderia ter sido.

Deixo os sonhos para os que dormem. Os meus, que sejam acordados, espertos e reais.

                     

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