Carrego nas vísceras engrenagens robóticas. Divido as emoções do coração com sistemas e planilhas minuciosamente calculadas. Aprendi a não sofrer de graça, a não jogar milho aos pombos simplesmente sentado numa praça. Se um dia sofri em silêncio, abafando dores que julgava necessárias, hoje resgato as peças para serem lubrificadas e as adapto à minha proteção.
Esquecidos sobre mim hibernam feras enjauladas e famintas. Do meu lago plácido evaporam monstros indomáveis. Crescem urtigas no meu estômago, nascem calos na minha voz, estouram bombas nas minhas pernas, dependuram-se morcegos na minha luz. Agoniza um homem de carne, ossos, sangue e cérebro, transformado (ironicamente) em mais uma sucata.
Já fui desonesto e covarde por fingir apetite sexual, quando na verdade havia saciado-o horas atrás, menti sobre verdades que eu acreditava, seduzi umas três virgens ainda lacradas por opção. Fui a salvação farsante de um crime sem fiança (violei confianças). Sem pudor, pisei na inocência, coagi e caçoei dos sonhos que não me pertenciam.
Juro que parei. A pausa aconteceu não por acaso. Joguei para o alto metade do meu corpo que ainda sentia. Agora sou só uma armadura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário