Às vezes tenho ímpetos de furar bolos de aniversários, gargalhar em meio às lágrimas, andar de costas, fumar charuto, andar de charrete, avançar o sinal vermelho, colorir o céu de vermelho, asfixiar o mar, algemar as estrelas, galopar sobre o vento, capturar a liberdade como refém, degolar o silêncio, perder o fôlego num beijo, transar por horas a fio no topo de um edifício, brincar do jogar capoeira com uma velhinha, encoleirar os pensamentos, empoleirar os segundos, achar o ridículo engraçado, ser o tédio de agora, esgotar o vácuo inútil, alvejar um falcão em vôo, conspirar, transgredir, violar o anonimato, não sentir, não sofrer a dor, não ter medo, entrar no mar de sapatos, explorar meus pontos inconstantes, constranger um elevador em operação com cenas tórridas e impróprias, me equilibrar em trilhos antigos com vagões enferrujados, gostar de pamonhas, abominar camarão, tombar sobre pilhas de textos incompreensíveis, escrever de olhos fechados, compreender as teorias do Freud, tolerar os imbecis, navegar ileso num rio de piranhas, ser imune ao esquecimento, transformar o côncavo em convexo, voltar a dormir no tapete, caminhar por estradas assombradas, abdicar das boas maneiras, assumir uma das identidades mais cruéis dos humanos: a indiferença, reconsiderar o egoísmo como necessário, confiscar a moeda do tio patinhas, destruir com socos os sorrisos facínoras e os olhares opostos. Diametralmente, me convencer que nem de longe sou a melhor escolha. Exerço apenas um esforço sobre-humano em mudar a história. Ao invés do avesso quero ser visto ao inverso. Mudar de lugar, confrontar, discordar, exceder, omitir são argumentos válidos, mas o que preciso mesmo é me reinventar (ou melhor, não inventar uma imagem baseada na aparência. Renascer exatamente igual – já sentia falta de mim).
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