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sábado, 7 de novembro de 2015

Batalha de egos


Sentada junto ao exílio dos seus pensamentos, imersa em si mesma. Alheia a qualquer espécie de apelo externo, com as pernas entrelaçadas e o celular pousado no colo (como a  proteger um frágil bebê) Ah, o cigarro! Não podia faltar-lhe o adereço. Movia-o entre os dedos, ainda apagado. Sensualmente, fazia malabares em giros transversais sem qualquer sincronismo estabelecido. Queria a reclusão de estar só. Nenhuma aproximação fazia-se interessante. Tinhas um olhar longínquo, perdido, solitário. Fez-me arrepiar da cabeça aos pés ao sorrir para um garçom e sussurrar com uma voz rouca, abafada:

 - Por favor, o menu!

Seu semblante esforçava-se para não transparecer emoção. Eu, de um saber cá de dentro, conhecia que intimamente ocultava até de si mesma, as angústias que a cercavam e teimavam em roçar-lhe as orelhas. Deveras impertinente, o acaso zombava da sua aparente serenidade. Queria ver o circo pegar fogo!

Avassaladoramente, fui atraído por aquela força distraída. Quando todos os holofotes justamente se voltavam para ela, mantinha-se absorta com guardanapos.

Aproximei-me com cuidado, driblando vagarosamente mesas e obstáculos, não perdendo de vista o objetivo. Não queria de nenhuma maneira sobressaltar-lhe. Num ímpeto reflexo, instintivamente viraste o rosto na minha direção. Com um sorriso pela metade, pouco sincero, procurastes desestimular minha ousadia. Sua postura ostensiva e inflexível abatia qualquer esboço de cantada.

Antes que pudesse antecipar-se, lancei-me rápido e tentei embaraçar-lhe:

- Posso ajudar a arrastar a mala?

Secamente, sem levantar os olhos, devolveu:

- Posso saber do que está falando?

Prossegui:

- Não sou halterofilista, mas pensei que poderia atenuar o peso que carregas nos ombros.

Fui incisivamente interrompido:

- Não me venha com psicologia de botequim!

Retruquei-lhe veemente!

- Não me interprete como uma ameaça! Meu intuito é conhecer além (bem além) de uma garota interessante. O propósito da aproximação não envolve provocar tua fúria. Insultar-lhe assim de graça me faria um sujeito idiota, estúpido.

Ela pareceu derreter a armadura...

- Desculpe! Não quis ser grossa!

Arrematei:

- Vou deixá-la à vontade. Sei reconhecer quando estou sendo inconveniente.

Ao virar-lhe as contas, senti as súplicas atingir-me a nuca:

- Mas... e o seu nome?

- Senta aqui! Vou abrir o jogo! Momentos atrás, suspeito que tenha perdido o grande e único amor da minha vida. Um abraço era tudo que eu precisava.


                                 

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