Paul, arrogante e irascível,
buscava alguma orientação que pudesse desanuviar-lhe as tormentas.
Como um inseto girando em torno da lâmpada, rastreava indícios de
equilíbrio. Suficiente, do couro cabeludo à ponta do pé, era-lhe
inadmissível ver sua estrutura esfarelando diante de uma emoção
desconhecida que o contrariava. Sentimento, na sua ótica, resumia-se
em tudo que pudesse conduzir. Fugindo disso, era estupidez.
Apoiara as mãos no
mogno e olhara de soslaio no espelho. Desconfiado, suspeitara que
estava deixando escapar sua estabilidade. Como presumia, o reflexo
que o enfrentara, estranhamente não parecia-lhe familiar. Olheiras
gigantescas circundavam qualquer prenúncio de horizonte. Sentira as
costas contraírem-se, os músculos retesarem-se, os punhos
cerrarem-se. A garganta fora tomada por severa aridez. Aquele corpo
tão supostamente perfeito, parecia impreciso. O deserto demandava um oásis.
Precisava desesperadamente de água. Talvez, se umedecesse as
engrenagens pudesse trazer à tona algum resquício de sanidade.
Dirigira-se à mesinha
de cabeceira e apanhara um copo. Num ímpeto, imaginou estilhaçando-o
contra a parede. Como se o simples ato de estatelar aquele objeto
contra uma superfície sólida, por si só, restabelecesse sua
autoridade. Todo o corpo tremia. Sempre esteve no comando. Pela
primeira vez sentia-se em segundo plano. Com sede, bebera. Sentira um
sabor amargo. Aspectos ásperos sabotaram seu paladar.
O desequilíbrio
alcançara a exaustão extrema, obrigando-o a deixar-se vencer e
pousar um joelho ao chão. Por um ciúme selvagem perdera sua
capacidade lógica de raciocínio. O diafragma contraíra-se
violentamente, causando uma dor insuportavelmente inexplicável.
Acabara de compreender o motivo das loucuras serem cometidas, quando
o controle das percepções são perdidas. Percebera em definitivo,
não haver isenção para aquele que decide ser absoluto.
Repentinamente sentira
algo úmido cair-lhe na mão. A última coisa que queria era
admitir-se fraco. Chorar representava o ápice da fragilidade.
Esbarrara na prova inequívoca do farrapo que se tornara.
Prometera-se desde muito cedo a não fraquejar. Chorar parecia-lhe
outorgar o fracasso. Inicialmente tentou se convencer que aquilo não
era exatamente uma lágrima. Poderia até ser uma gota salgada que o
olho vertera. Por uma série de razões, menos por amor. Sentira-se
próximo da infantilidade. O choro arrancara-lhe com violência o
curativo. Fazia-lhe vulnerável. Gostaria de esconder-se de si mesmo,
mas o espelho delator dava-lhe a visão plena do seu estado.
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