Duas bolas de fogo se derretem em chamas, cospem fagulhas e palavras com cheiro de cinzas. Verbos incandescentes e indecentes enfeitam os suspiros quentes, fazendo bolhas e estourando o tesão sem escrúpulos, que escorrega pelos becos sinuosos da intimidade até a contenção das ilusões de felicidade ao despertar. Numa ternura cínica arrebata-me pelos ombros, atira-me contra a timidez que me esconde, arranca com fúria os segredos debaixo do meu espaço reservado, atiça com seus atributos meus miolos, roça sedutora com os lábios os fios primatas da minha barba por fazer, arrebenta botões e zíperes com a pressa de quem não vê a hora do prazer explodir, faz ferver com seus compartimentos vulcões, tufões e jatos de lavas. Entre sucção e cavalgadas mergulho nas entranhas da tua carne dourada preparada para um banquete. Carícias e fricções de dois corpos entregues às fantasias de adormecer engatados. De morrer juntos, atados, ilhados... Da respiração ofegante à recomposição dos pulmões. Transito entre a brisa que nos refresca na madrugada e o sabor entre as tuas coxas.
O calor faz voar os lençóis e peças próximas da pele - vítimas constantes do pudor hipócrita que nos envolve. Sem sentir que os pés descalços ainda queimavam no desembarque ao tapete, sem nos importar com as asas chamuscadas no decolar da nossa fuga infantil esquecemos que a vida pulsava lá fora, que além dos nossos desejos existiam outros estágios, outras emoções fora de nós.
Confesso...
Desarmaria um exército de milicianos só para segurar teus quadris outra vez. Renunciaria ao apetite voraz do meu ego só para te perdoar de novo. Rejeitaria os apelos dos teus sussurros só para ouvi-la de verdade. Recusaria seus pedidos fora de hora só para me sentir importante nos pedidos seguintes. Encaixaria-me como peça perfeita no teu mundo de boneca só para ser o seu brinquedo e penetrar o teu castelo só mais um segundo. Dessa vez nu por inteiro.