Deitada sobre um tapete de grama, à beira de um lago plácido, espicha-se nua uma alma sem pudores. Tremores convulsivos e a febre dos desejos aquecem os sentidos. Enfeita de azul o ocre das sensações. A pele corada adorna meus pensamentos em malícia saliente. Meu corpo, em reação imediata, ergue-se incontrolável. Intrometido, anseia afundar-se nas suas entranhas, mordendo a isca lançada por deboche ao alcance dos fracos e suscetíveis. Indecentes suspiros se eriçam e quase deito com ela para silenciar o tormento que urra. Quase bronzeada, espreguiçando-se, estica suas curvas em arco deixando à mostra ondas atrevidas dos seios morenos. Em transitório instante de felicidade, desfruta da natureza que o astro presunçoso propaga em flashes o seu humor de verão. No encalço de um suposto paraíso clandestino, argumenta com sua beleza divina e ameaça a minha blasfêmia (dentre tantas).
Move-se sedutora em posições verticais, esgueirando suas formas suaves pelo meu solo arenoso. Despachada no palco que ainda não tenho acesso, dispersa seus sabores e aumenta minha gula em jejum. Terna, brilhante e desinibida oferece a arbitrariedade do seu corpo exposto, do seu rosto calmo e espírito lúcido.
Já que não posso penetrar o teu corpo transparente, transpor as tiras da tua superfície fresca, invado o reino das palavras, a fórmula das conjugações, a poesia do teu canto oculto encoberto pelas plumas de uma miragem imaterial. Na mudez sábia e elástica do teu dicionário, reclino as inspirações da poesia do teu corpo desfolhado.
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