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segunda-feira, 15 de junho de 2009

Cheiro de mofo



Sou do tempo em que tive o primeiro contato com as letras sob a luz do candeeiro.

Mais tarde, amparado sob a chama de uma vela – Posteriormente, já beneficiado com a luz elétrica, dei vazão às minhas inspirações com mais serenidade. Se bem, que logo no início da concessão da eletricidade, sofria com interrupções recorrentes de pelo menos uma semana. Pois é... Quando ocorriam problemas técnicos, éramos esquecidos na distante e minúscula geografia da roça.

Sou do tempo em que, diariamente, ao deitar do sol, reunia-nos na casa dos meus avôs, onde uma família numerosa, incluindo primos e vizinhos em brincadeiras de roda, esconde-esconde, exercitávamos o prazer puro e inocente das brincadeiras infantis... Enfim, era divertido não ter compromissos.


 Pertenço à época em que era equivocadamente repreendido pela minha mãe ao me aproximar de um vizinho com sucessivas crises de epilepsia. Mais tarde, mais consciente e informado, percebi que a minha mãe não tinha usado de preconceitos, mas de carência de informação. Afinal, estava em questão os conceitos de uma mulher simples, desprovida de conhecimentos, embasada apenas em antigos e estreitos pareceres.

Sou do tempo em que contrariava as tarefas impostas pela minha mãe, para jogar pelada descalço - Esporadicamente, com bolas de meia, num campo da Várzea – Pasmem! Com um poste no centro.


Sou do tempo onde não me regia por um relógio de pulso, mas pelo relógio biológico. Era despertado diariamente para seguir por uma trilha de alguns quilômetros a caminho da escola. Aprendi a me disciplinar e a ter paciência.

Sou do tempo em que me apresentaram o Deus como culpa – Não vejo a tentativa de catequese, mas a necessidade cega de uma cultura católica – repleta de dogmas e rituais desnecessários. Era incoerente enxergá-lo sob um prisma tão superficial. É um contra-senso sublimá-lo como salvador e, em seguida, defini-lo como carrasco para o nosso direito legítimo de errar. Codifico na minha referência O PODER DO HOMEM, o livre arbítrio, a busca eterna das respostas – às vezes tão obscuras.

Sou do tempo onde acompanhei apreensivo o nascimento de dois dos meus irmãos por uma parteira, que se revelou uma grande professora, tanto para mim como para uma comunidade inteira.

Sou muito mais perguntas do que respostas...

Muito mais curiosidades que certezas...

Mais buscas que encontros...

Mais reticências que conclusões.


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