Páginas

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Perspectiva da loucura



Com 15 anos inteiros, sem registro em carteira, desprotegido pelos direitos da CLT, dono de uma única certeza: Teria comigo as rédeas da liberdade. Dei início nas minhas aguardadas atividades profissionais como vendedor de produtos de primeira necessidade, numa espécie de mercadão.O salário era ínfimo, mas o que  importava é que eu estava crescendo, ganhando autonomia.

Havia no mercado inúmeros quiosques, por onde passava todos os dias, uma velha senhora - maltrapilha, rico acervo de palavrões. Desbocada mesmo! Familiarizada com o ambiente e os comerciantes, exigia em alto e bom som o objeto da sua compulsão, da sua loucura: Uma caixa de fósforos. Geralmente embriagada, sorriso sem dentes e uma mão estendida.

Quem seria capaz de contrariá-la?

Temendo constrangimentos, os comerciantes submetiam-se sem hesitar àquele estranho pedido. Não ousavam o confronto dos olhos – assim como eu. Havia um cão em posição de ataque, exigindo que o seu insignificante capricho fosse respeitado. Naquela sanha de extravagâncias, imperava o absurdo das vontades de quem sabe, uma postulante a incendiária de Roma. Ou ainda, uma simples cidadã, contrária às regras do sistema. Buscando ao seu modo chamar a atenção do poder para a sua voz de comando.
Fui percebendo que naquele ato inadvertido de disparate existia uma centelha de censura.

Resquícios de sanidade dentro dos devaneios. Não estava embutida naquela súplica contínua, imposições de valor monetário – tratava-se de elementos simbólicos.

Perguntas que não calam:

Onde seria depositado tanto material?

Como se desencadeara o distúrbio?

Loucura?

Depende do ponto de vista.

                                                        

     



terça-feira, 11 de agosto de 2009

Revolução das células


 Anos atrás, ouvi uma declaração que aparentava uma anedota, tal me parecia o surrealismo preconizado pelas afirmações tão hipotéticas.

“No futuro, chegaremos às gôndolas e estarão expostos órgãos, que poderão satisfazer nossas necessidades”.

Hoje, apesar da dimensão extravagante, percebo nuances possíveis.

Como hesitar diante do incontestável? Seria como pôr em dúvida, a presença de Deus. O homem sem perceber, está atingindo a máxima evolução, ou sendo desafiado no limite da sua inteligência. Chegará num ponto onde haverá um impasse: Recorrer a Deus será a saída.

Quem nunca ouviu relatos de animais que regeneraram órgãos ou do soro antiofídico, desenvolvido a partir do próprio veneno das serpentes? Deus criou o homem e dele mesmo está extraindo sua continuação. Para os agnósticos, proponho nova reflexão.

Compreendo as células-tronco como raízes. As sementes estão sendo arremessadas aos poucos nos sulcos dos milagres. Sem barulho, dessa semeadura, virão as colheitas. Os galhos dessa árvore frondosa despontarão e, numa velocidade vertiginosa, produzirão o inimaginável. Obviamente, um milagre de tal magnitude exigirá tempo.

Nanotecnologia, espermatozoides produzidos em laboratório – Pobres machos, substituídos por vibradores. A esterilidade masculina perde a força e a mulher ganha a autonomia da escolha. Daqui a alguns anos serão produzidos até cérebros mecânicos. Criaturas totalmente robóticas. Homens de lata, exonerados de emoções,  expressões de plástico. Projetos sem alma e ainda inacabados. A medicina até então preventiva, salta para a medicina regenerativa.

Ora, que venham as mudanças.