A imponente lareira se
exibia confortável em frente da mulher grávida. Com ternura,
era-lhe peculiar o doce tom
materno que a circundava. Embora os olhos amendoados chispassem às
vezes, fagulhas fulminantes de antipatia. Alta, esguia, possessiva,
acariciava o ventre volumoso em posição de proteção absoluta. A
gestação em fase avançada se aproximava do final. A irritação e a
ansiedade disparavam indícios claros da menina dando lugar à
mulher. Segura, demonstrava desenvoltura com o peso extra que
carregava. Mãos em fricção, pernas excitadas e um vapor condensado era eliminado pelos pulmões encolhidos. Partículas de água em
suspensão eram lançadas por espirros. O inverno bravio simulava o
gelo dos alpes. As janelas pareciam dançar com a ventania revolta
que subitamente se manifestava do lado de fora. Um cachorro felpudo
acompanhava freneticamente os passos de Jeff. Ambos brincavam de voltar
das caçadas, dos mergulhos nas florestas mais escuras. Fingiam que nada seria modificado com a chegada do primogênito. Esforçavam-se para simular um cotidiano habitual. Pobre Jeff!
Jovem garoto com medo de crescer! Altura mediana, cabelos encaracolados,
embrulhado numa malha grossa e um casaco forrado com lã
de carneiro, o que lhe emprestava uma aparência bem mais atarracada,
dado o enorme volume que a roupa lhe conferia. Sobre os cabelos anelados, uma boina típica dos senhores Portugueses. A gélida brisa que
sitiava o imóvel, encobria a história feliz que irrompera sobre
qualquer projeto de Sarah e Jeff. Encontraram-se ao acaso, numa situação avessa ao caminho dos apaixonados. Esbarraram-se por coincidências tolas, sem qualquer fato marcante. A não ser pela imediata repulsão que ambos sentiram. Sarah, parecia-lhe a imagem da presunção. Tinha um certo ar de autoridade que não suportava. Jamais toleraria qualquer esboço de arrogância. Como se detivesse todos os direitos adquiridos sobre a verdade. Enquanto Jeff parecia-lhe um ser simplório, sem metas, sem ambições. Definitivamente, estava decretado. Não se envolveriam. Estava fora de cogitação qualquer ilação de possibilidades. Aliás, não acreditavam mesmo nessas baboseiras de coraçõezinhos e suspiros diante do amor à primeira vista. Pareciam-lhe improvável que a atração surgisse assim... Selvagem, sem cheiro, sem pele, sem toque, sem tempo. Não eram de todo céticos. Embora reticentes, não desdenhavam que algo os surpreendessem. O pragmatismo e objetividade não lhes congelaram por dentro, nem robotizaram suas emoções.
Estabelece-se a partir daí estranhas conspirações, convergências esquisitas. Que ironia! Tiveram que reconsiderar seus conceitos acerca do destino. Ambos descobriram que existiam pensamentos exaustos que precisavam de um ponto para repousar. Encontraram entre eles as reservas que se buscam para serem completos. Contrapondo-se ao frio do inverno, o calor da nova família bastava.