E de repente um perfume impregna o ar e as lembranças.
Passeia descomprometido diante do olfato. Entranha o fôlego e confunde-se com o
oxigênio que banha a barba e o travesseiro. As mãos macias e delicadas deslizam com
a certeza do que buscam alcançar. Suavemente mostram suas garras.
Os seios perfeitos insistem em não ficar de bicos calados. Insolentes desafiam a lei da gravidade e não se deixam abater. Falam com a linguagem da pele e exploram cada centímetro do corpo entregue.
Petulantes, altivos, senhores de si, eretos. Fazem sulcos no peito submisso. Abrem
trilhas nos arrepios, se encaixam na medida exata dos pecados de sentir,
apalpar, de quase possuir com as mãos.
Desenha a ousadia de um número oito num trote inexplicável.
Com a voz embargada, entrecortada pela lascívia dos desejos camuflados entre as
rochas do recato, pronuncia em gestos pequenos a grande voracidade de querer.
Mãos de desejos tateiam na madrugada as mesmas
fantasias. Impõe resoluta e absoluta sua prece em forma de beijos. Parte ao meio supostas verdades, esmigalha em pedacinhos a compulsão entediante da repetição. Faz-se outra, renasce sedutora numa manhã despenteada.
Olhos expressivos ardem na despedida. Afastam-se com
medo de partir, de não mais existirem. Transbordam em impotência, perdem-se no vácuo da distância, escurecem, petrificam, interrompem-se no sutil intervalo de um piscar de incerteza.
Umidade que afoga, língua quente que derrete a censura, invade com toques matreiros e macios os pés embaixo do cobertor. Vasculha sem
pudor as encruzilhadas das virilhas, morde o ar que falta, suspira a paixão que sobra, mastiga as fantasias,
acorda a libido, arrasta deliciosamente gotas e líquidos do pote prestes a
explodir.
Atinge à queima roupa os esforços dobrados para não se curvarem à monotonia. Silencia com carícias e abraços longos o tempo que, falsamente sem graça, se prolonga nas curvas intrigantes daqueles instantes.